sábado, 4 de abril de 2009

O OUTRO.




Errar só pode ser consequência  de não esperar o tempo passar. 

Porque age na frente do relógio, com a sensação dele ter quebrado.

Quebra o tempo, a barreira de espaço e a própria cara.


_ Mas já está feito!

 diz o outro 


Não indagou enquanto podia falar.

O tempo passa e fica apenas com os batimentos aflitos do coração.

Arruma as malas e não tira nada de dentro delas.


_ Você não cansa de se procurar nos cantos da sua cabeça?


Mala no canto da sala e volta a tocar a mesma musica.

O tempo não passa onde não tem mar.

Chove por esperança que tudo se alague


_ Você é o seu próprio lar.


Afoga... em xícaras sujas de café solúvel.

Reconhece no próprio desespero o corpo parado.

Sentado há dias, em vertigem pelo seus pensamentos.


_  Olhe para frente, disse para frente.


Tenta mas sempre há um vento soprando a nuca.

De modo à esfriar a alma e olhar para atrás.

Calafrios e já não lembra das coisas ruins.


_ Você pode até se atravessar.


Inconcluso porém preciso na sua decisão

Sai do sofá, caminha pela sala vazia 

Como fosse tomar uma outra decisão, para.


_ De alguns passos até a sacada.


Respira e inspira fundo, percorre o corredor

olha profundamente para os olhos do outro

com o dedo apontado numa força bruta... para o espelho e diz:


_ Não mate meu silencio de corrigir!



Fredericco Baggio


quarta-feira, 1 de abril de 2009

O CADERNO AZUL





Eu tenho um caderno azul... que penso que jamais será lido.
Não enquanto estiver vivo ou sem tamanha intimidade, como a de E. P. (poeta e irmão).
E. P. é um dos raros que não julga... espera quieto o tempo passar... e até mesmo quando sua ansiedade o corroí... ele dá um sorriso.
Puro egoísmo meu, eu até sei disso. Não mostro!

Mas neste caderno azul... me esqueci por completo de metáforas e trocadilhos... o que me fazia esquecer e dizer minhas verdades.  Pintei (com palavras) toda raiva, magoa, magia e fúria que já senti.
No caderno azul... eu me confesso... sem pudores. Eu me cresço e nem como. Fumo e choro. 
Envelheço cerca de 10 anos nele.
Perco palavras... por influencia da outra língua falada, ouvida e gritada. Me perco e me acho.
No caderno azul... voltei na era da caneta. Uma tentativa até de melhorar a caligrafia ruim. 

É quase um diário de palavras nada doces e datas para melhorar a memória. Divide comigo o que não suporto em mim. É meu espelho com capacidade que vai além de qualquer microscópio eletronico... ou qualquer outra tecnologia avançada. É para dentro e do que me lembro, sem nenhuma poesia ainda.

Com ele na frente, sinto culpa até de escrever aqui. Pinto as coisas mais feias e mais belas que já vi, ouvi, vivi. Coloco nele o que está por vir... eu sonho escrevendo!

Ele carrega a carga daquilo que não posso suportar em mim sozinho. Não me olha de revés, não me cobra de nada e, as vezes, o pego me chamando:
_¨Me usa, me usa, me usa¨

Me cobro... para escrever dele... que já uma parte de mim.