sexta-feira, 28 de novembro de 2008

CARTAS QUE EU ESCREVO PARA MIM



Quando escrevo preciso de elementos básicos, o que poucas pessoas sabem... ou entenderiam.

Eu geralmente coloco um som... seja lá qual for... vai depender do estado da Alma.

Café. E enquanto aquela água ferve... vou idealizando as palavras. Café pronto, idéia quase pronta... cigarro aceso... e por favor, um tanto de silencio. Falo sozinho nesse preparo. Deve ser engraçado entrar num ambiente e pegar uma pessoa com uma xícara de café, cigarro ardente e falando sozinho... mas é praticamente uma necessidade biológica. Ouvir minha voz ressoando e reverberando pelas paredes da casa. Dizem que eu tenho a voz forte e grave.

De preferência que eu esteja conectado a internet.

Engraçado porque isso pode parecer que atrapalha, não é mesmo?

Pelo contrario, me ajuda... um bocado.
Sinto-me muito feliz quando encontro alguém que possa trocar idéias on-line.

Eu juro que gostaria de entender um pouco mais dessa minha necessidade de escrever.

Não me lembro ao certo quando comecei.

Mentira! Acabo de lembrar... quando meu primeiro Amor veio a acabar...digo, o primeiro relacionamento, eu escrevi uma carta longa.

Lembro que a carta de despedida... era sinceramente profunda.

Começou um ato desenfreado de escrever.

Eu já escrevi isso numa poesia... escrevo para morrer... e para ficar egoisticamente registrado.

De alguma maneira, meu medo de virar poeira cósmica é o que me deixa puto.

Poeira é apenas sujeira.

Não me acho nenhum grande pensador... nem poeta... muito menos escritor. Só exponho o que sinto... em palavras. Óbvio que eu gostaria, e muito, que o Mundo me lesse. Apenas no sentindo de poderem enxergar com meus olhos. Nem que seja por um segundo.

Comecei a escrever porque sempre achei que as pessoas da minha família nunca me deram ouvidos... no que eu tinha a dizer. Diziam e ainda dizem, em algumas circunstancias, que eu sou agressivo quando falo. Talvez pelo tom da voz... e por meus olhares.

Pois é... deixa eu falar dos olhares um pouquinho.

Eu sei que essa é uma das minhas maiores “armas”. Sim, estou falando de sedução. Afinal num me acho nenhum tipo de Don Juan. Mas “Deus” foi um cara generoso comigo, de alguma maneira.

Escrever! Era isso que eu estava falando afinal. Foi no medo de não ser ouvido... e ser “agressivo” que comecei a escrever. Pois por acaso não vão ouvir minha voz e podem até reparar nos meus erros medíocres... das minhas acentuações baratas.

Rimei “dor” com “amor” por longos anos. Mas mesmo rimando “dor” com “amor”... comecei a sentir aquilo tudo. Mesmo sendo poesias baratas (e hoje muito bem escondidas), criaram essa estrada invertida. Hoje eu corro para dentro... numa busca insaciável por tantos “eus” habitantes.

Hoje eu falo mais. Digo, verbalizo mais o que sinto. Aos 15 anos conheci uma figura que dizia que eu morreria de câncer se eu não falasse. Morro de medo de morrer de câncer. Doença desgraçada. Hoje, sendo agressivo ou não... eu falo mesmo.

Mas quando vou, de fato, expressar algo, prefiro escrever... ou olhar. Mas não poderia ficar gravando meus olhares... em câmeras de celular. Seria ridículo. Me sentiria, um pouco mais, ridículo.

Cargas d’água, hoje a internet não conectou. Passei um café depois da 1:00hs da manhã e fumei alguns cigarros. Não pude falar sozinho nem deixar a voz reverberar pelas paredes. Meu irmão dorme tem duas horas e isso o deixaria emputecido. Comecei escutando música instrumental e tô ouvindo MPB agora.

Que engraçado, tiveram dias que cheguei a sentar numa calçada qualquer daqui de São Paulo para escrever debaixo de garoa.

É um surto escrever.

É uma mentira tão sincera... que chego a vivê-las como se fosse verdade. Mas eu prefiro mentiras sinceras... do que algumas verdades.

Fredericco Baggio

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

FALTA





Faltou na apresentação de caratê
e na de balé dos sobrinhos gêmeos
pelo transito que pegou
Se desculpou com uma caixa de bombom

Faltou o namorado fajuto
por ser frio e médico
ela fez-se maquiada
e cheia de sorrisos sinceros

Faltou um pouco de dinheiro
na época da mudança da casa
e não pensou duas vezes
se encheu de amigos

Faltou-lhe a mãe
a mãe se foi
se foi, a mãe!
Fadou-se da vida.



Fredericco Baggio

terça-feira, 18 de novembro de 2008

CIR-CUS!




Quero uma mentira a cada vão, bom dia

De gozo da Vida, da obra dos lençóis

Amarrotados e embevecidos de suor

Das pernas lisas e escorregadias

Fundindo-se as minhas verdades

 

Quero a ilusão falsificada de café

Com leite azedo... dos pelos tenros

Que finge gerar um conforto

De ser teu ninho... em meu peito

Eu te vomito, a tua afronta

 

Te escalpelo da carne macia

Eu te sangro por dentro e por fora

Retiro seus olhos e exponho

Numa bandeja de prata dezoito

Defronte para ti e de toda sua dor barata

 

Grito como fosse dono do circo

A lona cai em chamas, pelos céus

Não nota, suas pernas cruzadas nas minhas costas

Me pressiona e berra sozinho

_Vejas o que sou por dentro



Fredericco Baggio 

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Shiiiiiiuuuu! Silencio!



Quando estou em silencio...
penso que podia estar colocando palavras no papel.
Criando passaros-pensamentos.

É um vicio de Vida...
para que se possa morrer registrado.
E finalmente esquecido,
em formato de livro numa estante qualquer.
Mas egoistamente materializado...


Fredericco Baggio

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Voltem aos montes




Escrever é ser preso a cada pedra-palavra atirada, 
num amontoado que nos distancia do chão. 
Voar (e ter asas) é a mais banal ilusão humana. 
Então eu me aninho nesses amontoados, 
pássaro perdido, em por-de-sois as sós, 
onde novamente não voo. 
E eu atiro mais pedras fingindo ser pássaros. 
Sejam pássaros. 
E voltem. 
Por favor. 
Voltem.


Fredericco Baggio e Enzo Potel
(mesmo que Enzo Potel negue... a distancia e conectados... fizemos)