sexta-feira, 30 de março de 2012

Era

Era de solidão e tempos
que sempre falava
aquela desembolação de corpos
e uma tortura saudades
(quase indolor)

O peso de papel
que segura as poesias
sob a escrivaninha antiga
parece ter mais significado
quando não deixa
mais o vento agir

A hora sagrada de fazer o café
e aquele cheiro... seu, cheiro
que invadia as paginas
daqueles livros todos
ainda em branco

A sensibilidade invisível
daqueles dias inteirinhos
quase para explodir
Andava sozinho
naquela casa enorme
que parecia envelhecer
ao decorrer do corredor
e falava contigo

Falava e parecia até
acariciar seu rosto
_NÃO falava sozinho!
(repete em voz alta)
Ecoa-se por si mesmo.
Até a hora insuportável
de abraçar o travesseiro
andava mais suportável
(trocavam segredos)
Era de solidão e tempos
de que se vivia.
E uma vontade
absoluta de pedir
um silencio.

(Fredericco Baggio)

3 comentários:

Para Elas sem Eles disse...

Fre sempre adorei da maneira que você escreve, a leveza das palavras e ao mesmo tempo a profundidade dos sentimos impressos nessas palavras. Linda! Adorei!

Beijos,

Milene.

Murilo Pagani disse...

Frede, querido!

A sucessão de imagens sugeridas é impressionante.
O todo composto por fragmentos.
Cada parte é uma outra poesia em si mesma.
Eu digo também que é quase "difícil", porque exige do leitor uma experiência viva das possibilidades de construção. É preciso ter passado e memória para compor a leitura junto. Isso significa que é um poema para ser sentido e não entendido.

Você, com sempre, tem seu alvo à esquerda do esterno.

Beijos.

Guilherme Peniche disse...

Bem sensorial... e um tanto visceral :)