segunda-feira, 9 de abril de 2012

Aqueles cafés inexistentes



Ofereceu café já sabendo que iria ser aceito, mas naquele fim de tarde estava diferente. Pegou outra xícara, na qual não costumava tomar café, e enquanto suspirou, segurando aquela xícara, passou o dedo indicador pela borda como fosse tirar um som... de esperança... mas só se ouviu o longo suspiro. Por fim colocou mais café que o habitual e serviu. Quando a colocou na mesa, sem pires, o café transbordou naquele lindo caminho de mesa de tricot - que com cuidado tinha sido feito com linha branca fina e estava recém engomado. Olharam juntos para a mancha de café, que agora fazia parte do caminho da mesa, e se entreolharam com quase um sorriso no rosto. Mas aquela tarde não os deixavam sorrir...
Desviou o olhar para janela da cozinha e quando os olhos foram levados juntos com os dele, foi interrompido:
_ A lua está esplendorosa! - e bebeu seu café ainda pelando... e por sua expressão tinha queimado a língua, mas mesmo assim exclamou: Não vai tomar seu café?
_Eu não tomo café quente, somente morno!
De fato sorriu, mas não foi de alegria. Os olhares ainda na lua e, com a brisa fresca do outono, pousou sua mão sobre a dele. Mas apenas a colocou ali, não acariciou, somente estava ali.
_O que você realmente quer? Sei que isso é entre nós e não cabe a ninguém mais saber... Sei que fui um pouco estúpido nas ultimas vezes que nos falamos ao telefone... - falou em um tom irritado, já esperando para rebater qualquer coisa dita e por fim fez um carinho em suas mãos como há tempos não fazia.
_ Easy Boy! Easy! - retirou a mão debaixo da dele e o olhou nos olhos que ainda estavam na lua - Já foi... não quero nada! Em absoluto nada! Isso foi entre nós... passou e morreu! Use os tempos verbais no passado e sem drama! O que cada um faz com "seu passado"... é o problema de cada um! Seus "sem mais" já foram dados e minhas desculpas já foram pedidas! Se acaso tiver que tirar satisfação com alguém... que seja com essas pessoas que estiveram envolvidas ai por tanto tempo, das quais eu devia satisfações. E não mais comigo.
_ Seu café já deve estar morno! - falou com a voz embargada... e esperou ouvir o café descendo pela guela de maneira mais doce, que "seu passado".

(Fredericco Baggio)

Um comentário:

Guilherme Peniche disse...

O passado nem sempre desce quemando pela guela... o passado desse com sabor de café virado do dia seguinte. BEM amargo, quer dizer, muitas vezes rs